sábado, 12 de janeiro de 2008

Porto, cidade minha



Cada vez que calcorreio as ruas do Porto, sinto que conquisto mais um pedaço da minha cidade. Estimula-me e intriga-me saber que já faz uns aninhos desde que começei a andar e a adquirir o sentido de orientação e ainda, repito, ainda não descobri o Porto por si só como um Todo.
Há sempre um lugar, uma paisagem, uma sensação que me escapa. O que é bom, visto que ganho sempre o ânimo para ir visitá-lo uma, duas ou três vezes, ou até, - recorrendo à matemática- " + oo" de vezes.
Mas como não quero tornar este blog demasiado pessoal, deixo um tributo à Cidade do Porto, por Teixeira de Pascoaes (poeta do início do séc. XX):

Porto da minha infância!
A primeira impressão que me causaste
Tenho-a, cheia de espanto, na memória,
Cheia de bruma e de granito!
É uma impressão de inverno,
Sombra cinzenta, enorme, donde irrompe
Alto cipreste empedernido,
No meio de sepulcros habitados.


PIM!,
AR
P.S. A foto não foi retirada do Google Images, apenas pela minha máquina digital. :)

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

"Livre(dade)"

Estou em vias de ser estrangulada pelo meu "compincha" Rocha, pela minha falta de comparência neste blog. De facto, quem entra aqui vê 903257834273856 posts dele e raros são os meus. Desculpem.


No outro dia andei ,(talvez movida pelo Dia da Declaração dos Direitos Humanos e pela sua essência que se espalha pelo polivalente da escola) a procurar poemas sobre Liberdade. Claro que esta palavra quase imediatamente se prende ao 25 de Abril (apesar de considerar que o 25 de Abril de 1974 está muito longe de ser O dia da Liberdade- mas isso explico, num post posterior).
Encontrei desde logo um poema de Manuel Alegre, "Trova do Vento que passa"



Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
O vento cala a desgraça
O vento nada me diz.
Mas há sempre uma candeia
Dentro da própria desgraça
Há sempre alguém que semeia
Canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não. ~

Curiosamente, este poema foi cantado por Adriano Correia de Oliveira, um brilhante e sublinho, brilhante Fadista.

Fado & Poesia de mãos dadas. De um lado a música que nos caracteriza e distingue como Portugueses, do outro toda a maravilhosidade da escrita de um político que luta pelos seus ideais. Juntos, fazem um autêntico hino à Liberdade, e cada palavra é um símbolo de esperança e de força para aqueles que resistiam, com persistência e sofrimento, à repressão que se vivia em Portugal antes do 25 de Abril.



AR

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Demos voz a estas letras

Dia da Declaração dos Direitos Humanos:

Pondo hoje um pouco de parte a Literatura, e dando especial atenção ao nosso título "voz das letras" parece-me muito oportuno falar no dia de hoje particularmente daquelas letras que infelizmente o Mundo teima em não lhes ouvir a voz: os Direitos Humanos.

Como é claro, não vou deixar aqui todos os artigos, não é propositado e há em muitos locais de fácil acesso aí pela Web. Deixo aqui três, que gostava que ficassem como marca da minha reflexão acerca do assunto... E são frases com tanta voz, que parece nos dias de hoje que incomoda o tanto que elas dizem, fazer ouvidos surdos é tão mais fácil...

Artigo 3°

Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4°

Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.


O primeiro, deixo em último, para que soe o seu eco, por aí...

Artigo 1°

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.


devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.


Obrigado mais uma vez por estarem desse lado.

JR


quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

????

Tenho andado por aí a ler umas coisas meio filosóficas e até que "traz algum gozo este cansaço que isto nos causa... Porque afinal a cabeça ainda serve para alguma coisa" como dizia Álvaro de Campos.

Primeiro, deixo uma quadra bastante curiosa que encontrei de Sophia de Mello Breyner :


A bela e pura palavra Poesia
Tanto pelos caminhos se arrastou
Que alta noite a encontrei perdida
Num bordel onde um morto a assassinou.


Nem sei bem se isto faz sentido, mas é isso mesmo que pretendo que tentem perceber. Eu há algum tempo que o tento fazer...


Depois, uma mera ilustração, só porque falamos em pensar, adoro dar largas à imaginação com coisas deste género:



O poeta é um fingidor? E isto é o quê? É fingir? Diria também que é ilusão... Então a ilusão poderá ser um fingimento...O fingimento também tem o seu quê de ilusão.E assim o poeta é algum tipo de ilusionista que traz de dentro dos seus versos (que nem cartola preta) a mensagem às vezes que menos esperamos (que nem coelho branco). E pensar desta forma faz com que "todo o poema que me passa à frente" me dê o gozo de tentar vê-lo do avesso. Que nem este conjunto de ilusões...

Nem sei se me faço entender, espero que sim!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Pedra Filosofal

Há uns tempos, sugeriam-nos por aqui em tom de comentário (e muito obrigado, é um propósito deste blog pertencer a todos) "Lágrima de Preta" de António Gedeão e a música por Manuel Freire, recordei-me eu hoje de Manuel Freire também e por acaso de António Gedeão também mas desta vez com "Pedra Filosofal". Teria razões para fazer um Post duplo, no entanto, sinceramente, não aprecio tanto musicalmente a melodia por trás do outro poema, por isso faço referência a ele mas merece sem dúvida este que o sublinhe. Não para mostrar algo de novo mas sim para avivar memórias, é sempre óptimo recordar estas passagens. Passagens que nos vêm da interiorização deste belo poema com uma doce melodia.
Doces também as imagens que ilustram o vídeo... Ofereço-vos então neste post 3 viagens diferentes.

Espero que os "destinos" sejam do vosso agrado.




Manuel Freire


Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos


que em verde e ouro se agitam
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma. é fermento,
bichinho alacre e sedento.
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel.
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança.,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
para-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra som televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre a mãos de uma criança.

António Gedeão

domingo, 2 de dezembro de 2007

Trovante

Acerca do nosso irreverente poema de Mário de Sá Carneiro faltou dizer que existe também este mesmo com música de fundo, E desta vez são os Trovante que arranjam os sons que servem de cama a este texto. Para não ficar excessivamente longo o post anterior e a abarrotar de informação deixo agora:



Trovante

(o texto respectivo pode ser visto no post anterior para quem não o tenha lido.)

Aquando a publicação deste vídeo surgiu-me um pensamente/curiosidade: Engraçada ver a forma como os bons textos (neste caso poemas) vão ter às (boas) mãos dos bons músicos portugueses. Às mãos, de resto, de quem provavelmente nós como apreciadores do seu trabalho confiaríamos estas relíquias. Temos artistas, não só os bons músicos temos a louvar como a sua capacidade de dar voz aos nossos tesourinhos (nada deprimentes estes).

Curioso é também ver a forma como o texto foi abordado e "musicalizado"... Não foi feita uma canção mas sim uma melodia de fundo que sugere o ambiente que recriaríamos(ou não) na nossa mente, guardando-a então desta forma para outro tipo de considerações inerentes à mensagem. Leva-me a pensar isto que estes artistas sentem também necessidade de partilhar estas coisas (já não sei bem o que lhes chamar, fica ao vosso critério) aquando das exibições do seu trabalho. Por as apreciarem, querem enaltecê-las e levá-las junto das gentes.

E está visto que o senhor Luís Represas (aqui, membro integrante deste grupo) sabe dar o braço à nossa literatura, de entre tudo que ele faz torna-se até complicado escolher o que partilhar .


JR

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Modernismo? Sim, Mário de Sá Carneiro

Desde já, admito: É despropositada a demora de um novo Post. Pedimos desculpa a todos aqueles que nos visitam e prometemos maior brevidade, arranjando forma de gerir o tempo de maneira a que este local tenha um espaço privilegiado no nosso "Diário"

Século XX e estamos no modernismo... Já Fernando Pessoa por cá passou, já Almada Negreiros teve também a atenção merecida(ou uma ínfima parte dela).Desta vez, trago comigo o melhor amigo de Pessoa(que se saiba), e o próprio se referia a ele desta forma. Mário de Sá Carneiro, está claro. Não se tivesse suicidado em tão tenra idade e com certeza hoje aclamávamos a sua obra de uma forma bem mais "exuberante", dada a originalidade e qualidade(subjectivismos à parte) da obra que temos ao nosso dispor.

Passo a citar.


Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
bom de verdade
bem feito de sonho
podia segui-lo como realidade

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só esperança
nada mais do que esperança
pura esperança
esperança verdadeira
que engana
e promete
e só promete.
Esperança:
pobre mãe louca
que quer pôr o filho morto de pé?

Esperança
único que eu tenho
não me deixes sem nada
promete
engana
engano que seja
engana
não me deixes sozinho
esperança.

Mário de Sá Carneiro


É assim a Esperança de cada um de nós?

(Se na vossa(Esperança), está o facto de este espaço ser mais dinâmico, faremos tudo para que não vos engane nem abandone)


Aceitando uma sugestão de um dos visitantes activos que felizmente temos neste local, deixo uma evidente marca daquilo que era o pensamento Modernista da altura, e particularmente o do próprio Mário de Sá Carneiro... Este, tendo noção que iría por um fim à sua própria existência escreve assim:


Fim(Quando eu morrer)

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.




JR